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Histórias do Pe. Cabada, SJ: A brilhante invenção de Jesus em “E o nome é…”

Leia a narrativa poética criada e contada por Pe. Cabada, SJ, sobre a brilhante invenção de Jesus.

 

 

E o nome é…

 

Naquele tempo, dona Maria estava na cozinha, seu José estava consertando a janela da casa de um vizinho. E Jesusinho… onde estava?
Jesusinho já não era mais Jesusinho. Era Jesus! Ele fazia questão de ser chamado assim. Ao chegar da sinagoga, depois de abraçar sua mãe, dona Maria, ficava lá fora, brincando como qualquer menino da sua idade.

Normalmente, ao meio-dia, Jesus, mesmo brincando “lá fora”, não aguentava a chamada do cheirinho do peixe que sua mãe assava na brasa. Mas, hoje, Jesus não atendeu a essa chamada. Que estava acontecendo? Dona Maria foi até a janela e olhou. Jesus estava brincando, como sempre fazia. Quando ia voltar a seus afazeres, viu alguma coisa brilhando nas suas mãos. “Deve ser alguma dessas pedrinhas brilhantes que aparecem, às vezes, ao mexer na terra”, pensou dona Maria. E, elevando a voz, perguntou-lhe:
—— Não está com fome?
Jesus nem levantou a cabeça:
—— Ainda não!
—— Papai deve estar chegando.
—— Tá!

Dona Maria sorriu e voltou aos seus afazeres. Quando o peixe ficou pronto, retirou-o das brasas e, no seu lugar, colocou uma panela de barro arredondada com uma massa feita com farinha de trigo, água, sal e fermento. Em pouco tempo, aquela massa se converteria num belo pão quentinho, cheiroso e apetitoso, para acompanhar o peixe na brasa.

Foi nesse instante que seu José chegou. Cumprimentou sua esposa Maria, beijando-a no rosto, e sentou-se num banquinho que ele mesmo tinha feito com um tronco de uma árvore seca.
—— E Jesus? —— perguntou.
—— Você não o viu quando entrou?
—— Não. Eu vim pelo outro lado da casa para lavar as mãos e o rosto na nascente de água.
—— Está lá fora brincando com uma pedrinha brilhante que deve ter achado no chão.

De repente, o próprio Jesus entrou correndo e abraçou os pais:
—— Que bom estarmos os três juntos em casa —— exclamou o menino.
—— Eu também fico muito feliz. Como eu trabalho fora e você vai à sinagoga todos os dias para aprender coisas novas e úteis, sua mãe fica muito tempo sozinha.
—— Pelo menos na hora do almoço estamos juntos! —— sorriu dona Maria.
—— Foi por isso que eu fiz uma coisa para ficarmos mais tempo juntos ——exclamou o menino, sentando-se noutro banquinho feito pelo pai.
Seu José e dona Maria se entreolharam, apreensivos.
—— O que é que você fez? —— quis saber o pai, mostrando preocupação na voz.
—— Isto! —— exclamou o menino, abrindo a mão esquerda, que mantivera fechada desde que chegou, e mostrando uma bolinha brilhante.
Os pais se aproximaram para olhar.
—— O que é isso? Uma pedrinha? —— perguntou a mãe.
—— Não. É uma coisa para podermos estar juntos em qualquer momento, mesmo estando longe.
Seu José torceu o nariz:
—— Foi você que fez essa… coisa?
—— Foi! —— respondeu Jesus, satisfeito.
—— Sozinho? —— insistiu o pai.
—— Bem, o Pai do céu me ajudou um pouquinho.
—— Só um pouquinho?…
—— Bem!… Um pouquinho, mais outro pouquinho!…
—— Imaginei… —— concluiu seu José, sentando-se, enquanto desviava a vista rapidamente para dona Maria e resmungava baixinho:
—— O Pai do céu está virando o Avô do céu… Permite-lhe tudo…
Dona Maria também se sentou, sorrindo. Seu José voltou a olhar para a pedrinha brilhante e perguntou-lhe:
—— Como funciona essa coisa?
—— É assim!… Toca-se com o dedo na bolinha e ela se abre. Vejam!
Jesus tocou a bolinha e, de repente, ela se abriu como uma lua cheia. O susto dos pais de Jesus foi tão grande que despencaram de seus assentos, caindo para trás e quase se machucando ao bater com a cabeça no chão.
Jesus olhou-os com cara de espanto:
—— Que aconteceu?
Nem dona Maria nem seu José responderam. Levantaram-se devagar, arrumando e sacudindo a poeira de seus mantos. Quando Jesus os viu sentados de novo, apoiou sobre os joelhos aquela “lua cheia” e continuou a explicação:
—— Agora, mãe, eu penso em você e no papai, e vocês aparecem nesta coisa brilhante… Viram?… Aqui estão!
Os pais se levantaram, inclinando-se sobre aquela coisa brilhante. Lá estavam ao dois, movendo-se e falando…
—— Agora pensem em mim!
E na “lua cheia” surgiu Jesus sorrindo ao lado deles.

Dona Maria e seu José ficaram impressionados e, devagarzinho, voltaram a seus assentos. Nenhum dos dois disse nada. Jesus olhou para eles e voltou a falar:
—— Se cada um tiver uma bolinha igual à minha, podemos ver-nos e conversar, a qualquer hora e desde qualquer lugar, mesmo que seja muito longe.
Os pais continuaram em silêncio… Jesus tocou com a ponta do dedo naquela “lua cheia” e ela voltou a ser a bolinha brilhante de antes. Ele a guardou, apertando-a dentro da mão esquerda, bem fechada. Seu José foi o primeiro a quebrar o silêncio.
—— Deu algum nome a… essa coisa? —— perguntou.
—— Dei!
—— Que nome lhe deu? —— perguntou dona Maria.
O menino Jesus sorriu e explicou devagar:
—— Na nossa casa, que é o nosso lar, há muito amor. Só falta estarmos mais tempo juntos. Com esta coisa, ficaremos juntos mais tempo e o nosso lar vai virar um céu.
—— E qual é o nome? —— insistiu sua mãe.
—— O nome é… “Ceunular”…
Não deu tempo para fazer nenhum comentário… A porta da casa abriu e entrou um velhinho!
—— É o Pai do céu!!! —— gritou o menino Jesus, dando um pulo e caindo nos seus braços. —— Que alegria é vê-lo em nossa casa!…
E acrescentou, mostrando-lhe seu José e dona Maria:
—— Papai e mamãe!
—— Já os conheço! – riu o Papai do céu.
Sem cerimônia, o Pai do céu sentou-se noutro pedaço de tronco, convertido em banquinho, e virou-se para seu José:
—— Então, quais são as novidades? Vocês pareciam preocupados.
—— Pois é… Estávamos falando do “Ceunular” —— explicou seu José.
—— Céu no lar? Muito bonito. Se todos os lares fossem como o céu, seriam muito felizes. Um céu no lar!
—— Não é bem disso de que estávamos falando. É de uma coisa que fez seu filho, digo, nosso filho, e lhe deu o nome de “Ceunular”.
—— Que bom! Em que consiste, Jesus, isso que você fez?
—— É aquela bolinha de que lhe falei, que se converte numa roda brilhante ao ser tocada com o dedo e com a qual pode-se ver e falar com qualquer pessoa que tenha outra igual, mesmo que esteja muito longe.
—— Mostre-me! —— pediu o Pai do céu.
O menino Jesus explicou seu funcionamento detalhadamente. Quando terminou, o Pai do céu disse apenas:
—— Fora do tempo…
—— Não entendi, Pai. Fora do tempo, como?
—— O tempo do seu “Ceunular” ainda não chegou. Provavelmente só chegará daqui a mais de 2 000 anos, que também será o tempo em que as pessoas devem estar preparadas para usá-lo. O tempo não dá pulos, Jesus. É como a idade: dia a dia, semana a semana, mês a mês e assim por diante… Todos os seres humanos são novatos em cada manhã. Você também. E as coisas também… É assim que se vive: um momento de cada vez. Um bocado de cada vez, para não se engasgar…

Jesus ficou dando voltas na sua cabeça às palavras do Pai do céu. Depois olhou para Ele:
—— Quer dizer que o “Ceunular” só daqui a 2 000 anos?
—— Mais ou menos —— riu o Pai do céu. —— Lembre-se: você está aqui, na terra, para aprender a ser humano. E o primeiro passo é ser criança e agir como criança. O segundo passo, para ser adulto de verdade, é crescer em idade e tamanho, sem esquecer a sabedoria e o amor.
—— Sem esquecer a sabedoria e o amor —— repetiu Jesus. ——Tá! Então, vou esquecer o “Ceunular”.

Dona Maria e seu José acompanhavam, admirados, a conversa dos dois.
—— Portanto, querido Jesus – continuou o Pai do céu ——, brinque como as outras crianças, corra, salte, nade no rio, desenhe, faça figurinhas de barro imitando bichinhos, passarinhos… etc., mas sem esquecer os limites!
– Pai! Depois de 2 000 anos ainda haverá limites?
– Mais do que agora!… Porque limite é respeito e respeito é amor! E é muito gostoso viver cercado de amor, não acha? Bem —— continuou o Pai do céu, levantando-se —— Preciso ir. Tenho que cuidar da minha família do céu, a Trindade.
—— A Trindade já é Santíssima, não precisa de sua ajuda: é uma família perfeita. —— comentou seu José.
—— Quase —— sorriu o Pai do céu. —— Para ser perfeita precisa de uma criança, como Jesus…
—— O que vai fazer uma criança na Santíssima Trindade? —— reclamou dona Maria.
—— Vai tirar a Trindade do sério e deixar os teólogos malucos.
—— Mas eu não vou deixar que leve o meu Jesus, viu? —— riu dona Maria, abraçando Jesus com toda a sua força.
—— Esperarei… —— riu também o Pai do céu.

O Pai do céu já estava se virando para a porta, quando se voltou e disse:
—— José, você tinha razão no que estava falando antes de eu chegar.
—— O quê?! —— admirou-se seu José.
—— De eu ser avô de Jesus. Sou mesmo. Sou pai de Jesus-Deus e avô de Jesus-Homem. Gostou?

Dona Maria, seu José e Jesus, filho deles e neto do Avô do céu, se aproximaram com os braços abertos para abraçá-Lo e despedir-se, mas, quando tentaram abraçá-Lo, não encontraram nada, só uma alegre risada se diluindo no céu azul do meio-dia…

Uma alegre risada…
E o cheirinho de pão quentinho e de peixe assado na brasa…

 

Pe. Cabada, SJ