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Jesuítas recebe lançamento do livro do Professor Filipe Queiroz sobre informantes de Getúlio Vargas

 

Professor de História apresenta pesquisa inédita realizada em importantes acervos, revelando estratégias de Vargas

 

“O presidente Getúlio Vargas não era uma pessoa onisciente, mas muito bem-informada”, assegura Filipe Queiroz de Campos no livro “Os informantes de Getúlio Vargas e a política externa brasileira (1930-1945)” (Afra Editora), que tem lançamento no próximo dia 12 (quinta-feira), às 19h, no Auditório Pe. Oliveira, do Colégio dos Jesuítas, em Juiz de Fora. A pesquisa inédita explora as relações entre o Poder Executivo e a diplomacia durante o governo de Vargas, mostrando a superlativa influência dos informantes do presidente na política externa brasileira entre as décadas de 1930 e 1940.

 

Na obra, Filipe investiga as inspirações de projetos que marcaram a política varguista, como a criação do Departamento de Imprensa e Propaganda, o DIP, e a fundação da Companhia Siderúrgica Nacional, a CSN. Narra o historiador que Paulo Germano Hasslocher, um informante muito bem-informado, descobriu que a Argentina era o principal obstáculo para que os Estados Unidos oferecessem ao Brasil um grande financiamento para a abertura da siderúrgica. A Argentina pediu à Inglaterra que impedisse tal gesto e, ao ficar sabendo dessa intervenção, Vargas determinou que os trâmites fossem feitos às escondidas. Deu certo.

 

Hasslocher também evitou que armas americanas fossem compradas na guerra civil brasileira de 1932. “Ele identificou quem estava comprando, pois trabalhava como adido comercial na Embaixada Americana”, conta Filipe. E completa: “Por baixo dos panos, o Brasil comprou destróieres, outros armamentos e conseguiu criar a CSN.” Outra informante importante na rede de Vargas foi Rosalina Lisboa.  A mulher, que teve uma possível relação amorosa com o presidente, tornou-se importante figura no círculo diplomático das Américas. Jornalista, ela chegou a representar o Brasil na Organização das Nações Unidas.

 

Uma rede paralela aos informantes

Adaptação da tese de doutorado de Filipe Queiroz de Campos, defendida em 2023 na Faculdade de História da UFJF, sob orientação de Jorge Ferreira, o livro reúne descobertas feitas em importantes arquivos do país e dos Estados Unidos. Em sua investigação, Filipe teve acesso aos acervos do Arquivo National Archives (NARA); do arquivo pessoal de Vargas, de posse da Fundação Getúlio Vargas; e de arquivos pessoais dos ministros de Vargas, que também estão na FGV; além do Arquivo do Estado de São Paulo.

 

Reveladora de práticas pouco usuais no contexto das políticas de Estado, a obra mapeia a presença de informantes espalhados pelo globo. Lutero Vargas, primogênito de Vargas, era um informante do pai na Alemanha e buscou agilizar a liberação de armas para o Brasil durante a Segunda Guerra Mundial. “O Brasil tinha vários carregamentos comprados e que talvez não chegassem aqui, porque a Inglaterra tinha um embargo. O filho agiu nos bastidores”, afirma Filipe, apontando para um procedimento que retrata muito bem o presidente: “Vargas não gostava de modelos democráticos, porque ele gostava de estratégias de bastidores e negociações rápidas.”

 

Filipe relata, nesse modo de proceder informal, confidências diretas entre diplomatas e o presidente, fluxo incomum na diplomacia. “Isso é muito personalista”, pontua o historiador, que também analisa, no livro, a relação de Vargas com o nazismo. “Ele não era afeito ao nazismo, como muitos indicam”, assegura. “Ele estava ciente de que o Brasil não seria um país importante para os nazistas. Em seus diários, ele demonstra medo, mas o aceno aos nazistas faz sentido, porque os informantes contavam sobre a potência armamentista de Hitler. Ele sabia que era grande a chance de os alemães ganharem a guerra”, explica.

 

Com linguagem acessível e bastante curioso, o robusto estudo de Filipe também preserva passagens divertidas, como a que envolve o diplomata Oswaldo Aranha, ministro da Justiça e Assuntos Internos de Vargas entre 1930 e 1931. Filipe conta que Aranha era informante do presidente antes de ser ministro e investigava a atuação dos ministros sem que soubessem. Bastante desconfiado, Vargas tinha uma rede de informantes paralela aos informantes. Quando Aranha se tornou ministro, o presidente colocou informantes para investigá-lo, o que o diplomata já imaginava. “É um xadrez fino”, observa Filipe. “Não era novidade um presidente ter informantes, mas os de Vargas eram muito eficientes”, conclui.

 

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LANÇAMENTO 

Dia 12 de setembro (quinta-feira), às 19h, no Auditório Pe. Oliveira, do Colégio dos Jesuítas