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Histórias do Pe. Cabada, SJ: a integração no planeta em “Me coloca na lista”

Leia a narrativa criada e contada por Pe. Cabada, SJ, sobre a instigante vida no planeta Terra

 

 

Me coloca na lista

 

— Foi ontem.
— Ontem?
— Sim, ontem. Estava dando umas voltinhas no terraço do meu prédio, como costumo fazer antes de ir dormir. Mais ou menos às 11 horas da noite. Iniciava a segunda voltinha quando ouvi:
— Psiu!!!
Virei-me rapidamente, mas não vi ninguém.
— Deve ter sido uma ave noturna, — pensei e continuei caminhando.
Continuei, não, porque outro “Psiu!!!” me deteve e, de novo, virei-me.

Não era um pássaro noturno. Era uma pessoa, aparentemente, como outra qualquer, de pé, olhando para mim. Estava sorrindo como se quisesse me tranquilizar.
— Quer conhecer o meu planeta? — perguntou.
— Que planeta? — respondi.
— Já disse: o meu.
— Seu planeta não é a Terra?
— Não. Meu planeta está a milhares de anos-luz de seu planetinha Terra. Estou aqui disfarçado de terráqueo. Venha! Eu levo você.
— Milhares de anos-luz significa nunca chegar lá.
— Viajaremos à velocidade do pensamento, que é a velocidade tradicional do meu planeta. Venha!
— Preciso ir dormir. Amanhã cedo tenho um compromisso muito importante.
— Antes de um minuto, estará de volta. Vamos!

Quando disse “Vamos!”, surgiu ao meu lado algo como um globo transparente com uma abertura arredondada, por onde ele entrou convidando-me, também, a entrar, com um gesto da sua mão direita.
Sem pensar, entrei. Ele fechou a abertura e, sem interrupção, a abriu de novo.
— Pronto! — exclamou. — Chegamos. Desça!
— Mas…
— Velocidade do pensamento! — repetiu.

Desci! Aquilo não era o terraço de meu prédio…
— É meu planeta — sorriu ele, como se tivesse lido meu pensamento.
Girei sobre mim mesmo, de olhos bem abertos para não perder nenhum detalhe, e, quando dei a volta completa, dirigiu-se a mim de novo:
— Pronto! Voltemos à nossa nave, — disse, mostrando-me a porta arredondada, que ainda estava aberta, daquele globo que ele chamou de nave.
Entramos. Ele fechou a porta e, sem interrupção, a abriu de novo:
— Pronto! De volta ao seu planetinha Terra. Gostou?

Agora, sim, aquilo era o meu terraço! Quando me virei para responder-lhe, ele tinha desaparecido. Ele e aquela nave, que parecia um globo, e que voava à velocidade do pensamento.

Então, já no meu terraço, completei a segunda voltinha, que tinha iniciado antes de viajar à velocidade do pensamento, e, depois, fui dormir.

Meu amigo me escutou até aquele momento, sem interromper-me.
— Belo sonho! — concluiu.
— Não foi sonho, não! Foi real. Eu fiquei muitos anos naquele planeta!
— Anos? — espantou-se meu amigo.
— O que lá são anos, aqui são segundos. O tempo lá não avança à mesma velocidade e na mesma direção que o tempo cá.
— Não? E o planeta e a gente de lá, como são?
— Diferentes, muito diferentes de nós! O clima é muito agradável e os habitantes também. São todos iguais. Só se distinguem pela cor de sua pele. Cores de uma tonalidade suave. Não usam roupa. Não são femininos nem masculinos. Não morrem. Quando acham que já viveram bastante, nascem de novo, viram crianças. Iniciam uma nova vida, mas com características diferentes. São muito alegres e felizes. Não têm boca, mas se entendem melhor do que nós, habitantes do planeta Terra. Não falam nem se alimentam. Crescem e se desenvolvem naturalmente. Seus olhos são grandes, redondos e muito lindos. E seus braços e suas pernas são elásticos, sem ossos, sem joelhos, sem cotovelos e sem dedos. E correm e abraçam melhor do que nossas pernas e nossos braços. Não há diferenças raciais, linguísticas, sexuais ou de outros tipos.
— Formam famílias?
— Não. São uma só família. Uma só cidade. Um só país. Um só planeta.
— Têm religião?
— Também não. Eles nunca se desligaram de Deus. Por isso não precisam se religarem.
— Então, devem ser todos como os santos do céu.
— Não! São, apenas, o que nós na Terra chamamos seres humanos e se comportam como seres humanos, como deveríamos comportar-nos nós. Só isso!
— Aceitam refugiados? Me coloca na lista!

 

Pe. Cabada, SJ