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Histórias do Pe. Cabada, SJ: avanços tecnológicos de outro planeta em “Já passamos por tudo isso”
Leia narrativa criada e contada por Pe. Cabada, SJ, sobre um encontro entre terráqueos e “etês” num outro planeta
Já passamos por tudo isso
A viagem, que normalmente duraria vários meses, demorou poucos dias, graças ao incrível progresso das viagens interplanetárias e interestelares, impulsado pelos cientistas do planeta Terra. Atualmente, as naves possuem toda a tecnologia necessária para alcançar os lugares mais afastados do Universo.
O destino dessa viagem era um planeta localizado fora do Sistema Solar, com uma atmosfera semelhante à da Terra, povoado por seres vivos e classificado pelos astrônomos como dono da tecnologia mais avançada do Universo. Por esses motivos, o planeta recebeu o nome de “Tecnopla1” (Planeta Número 1 em Tecnologia) e converteu-se na maior atração das viagens interestelares.
Essa era a primeira viagem que partia do planeta Terra. A equipe de bordo era formada pelo Comandante e uma tripulação de cinco mulheres e cinco homens. A maior preocupação não era a viagem, mas a chegada: como seriam recebidos pelos habitantes do planeta Tecnopla1.
Ao iniciar a manobra de aproximação à superfície, a nave descia e a angústia subia. Mas a angústia desapareceu quando as comportas da nave se abriram e os astronautas olharam em volta: tinham pousado no meio de um mar de “etês” sorridentes e, através desse mar, os tripulantes foram descendo e desfilando de um em um. Os “etês” não se pareciam nada com os “etês” do cinema da Terra. Eram iguais aos terráqueos, como se o Autor do Universo tivesse usado o mesmo molde para criar os habitantes dos dois planetas.
O primeiro contato foi tranquilo, pacífico e alegre. Para isso, muito ajudaram os linguistas da Terra quando descobriram o segredo da comunicação com pessoas que falam línguas desconhecidas, usando o pensamento como língua universal. Segredo que, também, não era segredo para os habitantes desse planeta de tecnologia tão avançada. A maior surpresa, porém, ficou por conta da esperada e desejada “tecnologia mais avançada do Universo”. Visto do espaço, o planeta parecia desabitado. E, visto do chão, seus habitantes nada tinham de especial. Onde estava, então, essa famosa tecnologia? Onde estavam as grandes e luxuosas cidades, os maravilhosos meios de transporte, as sofisticadíssimas redes de comunicação a distância, as roupas finas e elegantes, que não se viam por nenhuma parte? Onde estava essa avançada tecnologia que os astrônomos e os cientistas terráqueos descobriram nesse planeta e que desejavam importar para a Terra?…
Os recém-chegados, porém, esquecendo esses detalhes, saudaram, também sorrindo, os “etês” e receberam deles as boas-vindas na língua universal do pensamento. Depois, tomou a palavra pensante o Comandante da Nave. Começou agradecendo o recebimento feito pelos “etês”, descrevendo, a seguir, com muito entusiasmo, o planeta Terra, de onde provinham, e exaltando seu extraordinário, maravilhoso, impressionante etc. progresso tecnológico. Quando terminou, os “etês” caíram numa gargalhada incontrolável. O orador e os demais membros da expedição ficaram muito sem jeito ao ouvirem as gargalhadas, imaginando que talvez as gargalhadas, naquele planeta, tivessem um significado diferente do que têm na Terra, como, por exemplo, aplaudir, admirar, louvar, aprovar etc…
Mas a leitura de seus pensamentos confirmou que as gargalhadas tinham o mesmíssimo significado das gargalhadas do planeta Terra. Eles estavam, mesmo, rindo dos terráqueos… às gargalhadas!!!
Então, o Comandante da Nave aproximou-se de um “etê” e dirigiu seu pensamento a ele:
− Por que estão rindo dessa maneira?
− Porque nós já passamos por tudo isso! − Respondeu rindo… às gargalhadas.
− Passaram? Como?
− Nós também progredimos e avançamos muito mais do que vocês, nesse seu planeta que chamam Terra.
− Progrediram? Não se nota!… − E acrescentou, pensando baixinho: − Parecem caipiras!
Depois de ter pensado isso, arrependeu-se, mas confiou em que o “etê” não tivesse entendido a palavra. O “etê”, realmente, continuou, como se não a tivesse entendido.
− O progresso da nossa tecnologia era, e é, tão extraordinário que descobrimos que estávamos na direção errada.
− Errada, por quê? − Admirou-se o Comandante.
− Porque paramos de rir às gargalhadas!
− O que tem a ver as gargalhadas com o progresso tecnológico?
− Admirou-se mais ainda o Comandante.
− Muito!
− Não entendi! Por quê?
− Porque, para rir às gargalhadas, é essencial estarmos juntos, e a nossa tecnologia nos estava afastando, cada vez mais, uns dos outros.
− Mas também podemos rir às gargalhadas sozinhos.
− E acabar no manicômio!
O chefe da expedição ficou pensando nos pensamentos do “etê”. Depois perguntou:
− Então, quando eu acabei de falar, de que é que vocês riram, às gargalhadas?
− Da importância que você deu ao progresso de seu planeta, que você tanto louvou.
O Comandante não disse nada. A sua cabeça começava a doer de tanto usar a linguagem universal do pensamento. Olhou em volta e viu os terráqueos e os “etês”, rindo às gargalhadas, tão misturados que era difícil distingui-los a não ser pelo uniforme dos astronautas. Dirigiu a vista para o outro lado e viu a paisagem verde, florida, pássaros, bosques e mais “etês”… rindo, às gargalhadas!
De repente, lembrou-se da visão do planeta, quando iniciava a descida para o pouso, e perguntou:
− Onde estão as cidades, os arranha-céus, as autopistas, os trens-bala, as antenas parabólicas, as fábricas, os carros etc…
− Nos livros de História.
O “etê” riu às gargalhadas ao ver a cara de espanto do terráqueo e comentou:
− Somos caipiras, não acha?
Ao ouvir a palavra “caipira”, a cara do terráqueo passou do espanto para a vergonha.
***
À noite, terráqueos e terráqueas, reunidos na nave espacial, antes de dormir, tiveram um longo e proveitoso bate-papo. Enquanto se dirigiram a seus leitos, o chefe da expedição aproveitou o momento e enviou uma mensagem urgente ao presidente do planeta Terra: “Não voltaremos! Ficamos prisioneiros do povo deste planeta”.
Pe. Cabada, SJ
com umas boas gargalhadas!