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Histórias do Pe. Cabada, SJ: a importância de ver o outro lado em “Vira, vira, virou!”
Leia narrativa criada e contada por Pe. Cabada, SJ, sobre o exercício da alteridade, numa cena delicada do cotidiano familiar
Vira, vira, virou!
Era noite. Mãe e filha estavam na sala. A filha cursava o 8º ano, a mãe era contadora e o pai trabalhava como médico, o qual ainda não tinha voltado do hospital. As duas estavam esperando sua chegada para poderem jantar juntas.
A mãe digitava no seu notebook.
A filha preparava-se para fazer os deveres de casa. Tirou da sua mochila escolar um caderno, o livro de Matemática e o estojo onde guardava as canetas.
A menina abriu o caderno, procurou a página em que tinha anotado os deveres, escolheu uma caneta azul e começou a escrever. Depois de algum tempo, abriu também o livro de Matemática para fazer uma consulta. Ao passar as páginas procurando o lugar certo, um pedaço de papel voou para fora do livro e caiu no chão. Levantou-se para recolhê-lo, olhou-o e começou a rir.
– Mãe! – Exclamou. – Olhe o que minha amiga encontrou no chão da nossa sala.
Aproximou-se da mãe e entregou-lhe o papel.
A mãe pegou-o, leu e riu também.
– Como é que alguém pode fazer uma conta errada desse jeito, né, mãe? Imagine: 8 + 8 = 91.
A mãe olhou o pedaço de papel com atenção. Olhou na frente, olhou no verso e ficou dando-lhe voltas, olhando-o de cima para baixo, da esquerda para a direita e da direita para a esquerda.
Finalmente, exclamou:
– A conta está certa, minha filha!
– Mãe! – Exclamou rindo a filha. – Você é contadora e não sabe somar!
– Tome! Vire o papel e confira a conta de novo.
A menina virou o papel e leu admirada: 16 = 8 + 8.
– Uai!!! – Reagiu a menina. – Vou mostrar à minha amiga!
– Essa conta, minha filha, deu-nos uma grande lição! Quando você tiver um problema, não se queixe. Dê-lhe voltas, vire-o. Talvez não seja um problema. Talvez o esteja olhando pelo lado errado!
Naquele instante, entrou o pai com cara de mau humor.
– O que aconteceu, querido? – Perguntou-lhe a esposa.
– Um problema!
– Talvez não seja um problema! – Consolou a filha. – Talvez o esteja olhando pelo lado errado!
O pai olhou para a filha admirado:
– Como é que é?
A filha, então, entregou-lhe o papelzinho, que ainda tinha na mão…
– Olhe!
O pai olhou, virou, desvirou e… começou a rir.
– Obrigado, minha filha! Já entendi! Talvez eu esteja mesmo olhando meu problema pelo lado errado!
Depois virou-se para a esposa e disse sorridente:
– Então? Vamos jantar!
Pe. Cabada, SJ