Artigos

Inteligência Artificial e medicina digital: as máquinas vão substituir a inteligência humana?

 

Século XXI, auge da tecnologia em todos os espaços nos quais circulamos. Tecnologia inovadora, abrangente, embora nem sempre acessível a todos. Estamos na era da Inteligência Artificial. E quem diria que achávamos que tudo isso não passaria de ficção científica, produto das mentes criativas dos cineastas. Há quem pensasse que Gattaca fosse apenas mais um filme apelativo dos anos 90. O comentário que se segue é fruto de reflexões acerca do texto de José de Arimateia Batista e Giovanni Guido, divulgado na coluna Opinião, da Folha de São Paulo, e publicado em 09 de maio de 2022.

 

A Inteligência Artificial está presente, mais do que nunca, no universo da saúde. Hoje, pode-se executar procedimentos precisos e cirurgias arriscadas, fazer uso da realidade aumentada ou efetuar importantíssimos diagnósticos por imagem. Os trabalhos são otimizados e tornam-se mais detalhados. É inegável a contribuição dessa tecnologia para a sociedade em que vivemos. No entanto, cabe um questionamento sobre seus alcances técnicos, bem como sobre seus limites éticos: vale tudo na era da medicina digital?

 

Primeiramente é fundamental apontar que, como em qualquer outra tecnologia, especialmente no âmbito da saúde, a regulação é essencial para garantir precisão na coleta dos dados, segurança e confidencialidade. Além disso, cabe destacar os limites no que se refere a vieses na coleta e interpretação de dados. Até que ponto os programas serão capazes de detectar nuances que são particulares à condição humana e que definem o seu estado de saúde? Estariam as minorias sujeitas a uma análise enviesada dos seus dados? Estaríamos correndo o risco de sermos expostos ao uso destes dados, ferindo o princípio bioético da beneficência? Reflexões dessa natureza mostram que o cenário do filme Gattaca talvez não seja tão fictício assim.

 

Afinal, as máquinas vão substituir a inteligência humana? Estamos fadados à substituição por robôs muito mais eficazes do que nós? No meu ponto de vista, definitivamente, não. A inteligência é muito mais do que um conjunto de sinapses aleatórias de um sistema nervoso robótico e linear. Ela envolve essencialmente a experiência da humanidade, da compreensão do outro, inclusive – e talvez fundamentalmente – no campo da saúde. A Inteligência Artificial bem articulada na prática médica pode vir a contribuir para uma atuação que se destine realmente a enxergar aquele que sofre. A medicina nasce da percepção e preocupação com o sofrimento físico e psíquico do outro. E é aí que ela deve demorar o seu olhar. Deixemos que as maravilhosas máquinas – criadas e guiadas por nós – executem importantes, mas mecânicas e limitadas tarefas, a fim de precisamente nos auxiliar. Cada vez mais. E nada mais.

 

 

Profª Juliana Clemente

Comentário sobre o texto do jornal Folha de São Paulo: “O equilíbrio entre inovação e humanismo na medicina digital”